A prisão da cidade mexicana de Ocampo tem uma peculiaridade: 30 policiais estão detidos ali.
As autoridades federais do Estado de Michoacán mandaram prender os policiais municipais porque eles são os principais suspeitos do assassinato de um candidato a prefeito nas eleições gerais do próximo domingo.
Fernando Ángeles Juárez, de 64 anos, foi morto a tiros, por três homens armados, pouco antes das 8h na quinta-feira passada em frente a uma de suas propriedades. Ele é o terceiro político assassinado num intervalo de oito dias em Michoacán.
Desde o início da temporada eleitoral mexicana, em setembro de 2017, mais de 100 políticos foram mortos.
De acordo com a Subsecretaria de Segurança Pública de Michoacán, o diretor da polícia local, Oscar González García, e os 29 oficiais que compunham as forças da ordem em Ocampo foram presos na madrugada deste domingo, 24. Os promotores acusam os policiais de terem ligações com o crime organizado no Estado.
No sábado, 23, agentes federais chegaram à cidade para prender González García, mas foram eles que acabaram na prisão: foram detidos por policiais locais.
Os policiais federais voltaram então com reforços no domingo de manhã e prenderam toda a força policial e seu chefe, que posteriormente foi transferido para interrogatório na capital do Estado, Morelia.
Antes de iniciar a carreira política, Ángeles Juarez era um empresário de sucesso.
Segundo a imprensa local, ele havia considerado a possibilidade de concorrer a prefeito como candidato independente, mas depois se juntou a um dos principais partidos do México, a Revolução Democrática (PRD, de centro-esquerda).
"Ele não suportava ver tanta pobreza, desigualdade e corrupção, então decidiu fugir", disse um dos seus amigos mais próximos, Miguel Malagón, ao jornal El Universal.
Ele era um empresário hoteleiro em Ocampo, uma área turística famosa. A região é visitada todos os anos por milhões de borboletas monarcas, uma espécie que migra do Canadá para o México.
A mídia local fala sobre a pressão do crime organizado e os analistas concordam que os cartéis são tão poderosos que podem estar infiltrados em diferentes níveis na política e nas forças de segurança (embora isso varie em cada Estado).
Segundo a correspondente da BBC Mundo, Ana Gabriela Rojas, os políticos com maior risco no México são os locais, porque seriam o elo mais fraco. São assassinados porque não servem aos interesses dos cartéis, porque não querem concordar com eles ou porque não os cumprem.
Em Michoacán, existem 3 cartéis: o cada vez mais poderoso Jalisco Nova Geração, o Zetas e a Família Michoacán.
Por que matam políticos no México?
Mais de cem políticos foram assassinados no México desde setembro de 2017, quando começou o processo eleitoral, um dos mais sangrentos da história recente do país.
Especialistas consultados pela BBC Mundo ressaltam que esses crimes refletem a luta do crime organizado para eleger líderes de base a fim de continuar operando com impunidade.
Os assassinatos de políticos no México mostram que "há lugares no país onde aqueles que governam são os criminosos, o poder de fato, e não as autoridades eleitas", diz José Reveles, jornalista especializado em violência e tráfico de drogas.
"A violência no México é realmente alarmante e a indiferença em relação ao que acontece lá é muito grande do resto do mundo", diz Oscar Arias, ex-presidente da Costa Rica e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1987 em conversa com a BBC Mundo.
O país sofre a pior onda de violência de sua história, com 25.340 homicídios dolosos registrados no ano passado, segundo dados oficiais, uma média de quase 70 por dia.
Desde que o governo começou em 2006 a chamada guerra contra as drogas, mais de 200.000 pessoas morreram no México, muitas delas devido ao conflito em si.
Fonte
BBC