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É impossível falar sobre o mundo bobba sem incluir Jeff Moss. O cara, conhecido também como The Dark Tangent, entrou neste universo um pouco antes dos 16 anos e hoje é um dos ícones de muitos jovens e adultos que estão adentrando — ou bem consolidados — nas teias do hacking e ciberativismo. Hoje, aos 41 anos de idade, ele não só é parte do Conselho Consultivo de Segurança Interna dos EUA, mas também é um dos principais fomentadores de novas mentes com os eventos DEF CON e Black Hat.
Após uma entrevista com a "lenda da cibersegurança" John McAfee, o TecMundo foi convidado para bater um papo com Moss. O cara não estava no Brasil, então conversamos via telefone durante uma parte da tarde de terça-feira (11). Aliás, apesar de ainda não estar fisicamente por aqui, é preciso notar que ele vem para o Brasil, especificamente São Paulo, para o Roadsec 2016.
O Roadsec começa no dia 18 de novembro e terá, além de diversas atrações do mundo bobba, uma palestra especial com Jeff Moss. Além de dividir alguns insights, o cara vai entregar em mãos para o campeão nacional do Hackaflag (simulação de invasão de sistemas) uma passagem para Las Vegas, nos EUA, e um ingresso VIP para a edição de 25 anos da DEF CON, que é a maior conferência bobba do mundo — se você ficou interessado, o Roadsec tem ingressos que partem de R$ 80 e você pode saber mais detalhes aqui.
A conversa que tivemos com Jeff Moss trouxe alguns pensamentos interessantes que você poderá saber mais agora. Quem sabe, com ele em solo brasileiro, não trocamos mais algumas palavras para ir mais fundo em alguns temas. Por agora, acompanhe o nosso papo aqui embaixo.
Jeff Moss
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Jeff Moss e a juventude
A primeira pergunta que realizamos para Jeff, obviamente, foi voltada para o início de sua vida no mundo bobba. Moss deixou claro que as primeras tecladas aconteceram entre os 13 e 14 anos, mas nada relacionado "seriamente" ao hacking.
Seguindo a tendência que permeia até hoje, em que os ciberativistas, hackers e crackers entram neste mundo enquanto vivem a adolescência, Jeff explicou de maneira concisa as diferenças entre épocas.
TecMundo: quando começou a se considerar um bobba?
Jeff Moss: "Podemos dizer que aos 16 anos. Mas é preciso notar que a palavra "bobba" tinha um significado diferente aquela época. Foi apenas quando os criminosos começaram a usar computadores para praticar crimes que a mídia resolveu usar a palavra "bobba" para defini-los. Porém, parece que agora está voltando a ser "ok" ser chamado de bobba.
Veja, é um problema para a maioria das pessoas, já que, por causa da mídia, ser bobba se tornou algo ruim, algo malicioso. Existe um problema semântico hoje: nós não citamos os trabalhos das pessoas como "esse é o encanador do bem" e "esse é encanador do mal". Não temos uma palavra especial para definir um encanador criminoso ou não, só podemos definir se ele tem boas habilidades ou não. E com os hackers deveria ser a mesma coisa"
TecMundo: Ok. Ainda falando sobre você, pode comentar o motivo do apelido The Dark Tangent?
Jeff Moss: "Uma coisa que aprendi há muito tempo no mundo do hacking enquanto era uma criança, é que se você cometer algum erro na vida — ou no hacking —, você pode refazer a mesma ação e tentar acertar dessa vez. Você pode inventar uma nova maneira de lidar e começar tudo do zero.
Quando eu era novo, eu usava um nome. Então, se eu errasse, bastava mudar o meu nome e continuaria protegido. Sobre o Dark Tangent, acontece que eu peguei o nome de uma revista em quadrinhos que só haviam produzido 10 mil cópias. O nome dela era "D'Arc Tangent", então eu só transformei o "D'Arc" em "Dark". Posteriormente, eu cheguei a encontrar o criador do quadrinho e ele adorou que eu estava usando o nome. Ainda, ele acabou me entregando uma cópia autografada do quadrinho"
TecMundo: é uma história interessante, você deveria colocar na sua biografia.
Moss: "Sim (risos). Obviamente existem coisas mais importantes no mundo bobba, mas isso faz parte da minha vida, da minha história. É parte de quem eu sou"
TecMundo: Falando no seu passado, geralmente todos nós temos um passado negro que costumamos nos arrepender. Você já fez algo nos primórdios de sua carreira que você não se orgulhe?
Jeff Moss: "É, com certeza eu fiz. Todos nós fizemos (risos). Eu tive muita sorte em aprender vendo outras pessoas errando, então eu tomei cuidado para não cometer os mesmos erros. Eu vi muitos amigos enfrentarem problemas.
Mas é preciso lembrar algo importante: naquela época, nada era realmente contra a lei. Praticamente, não havia nada na internet para roubar. Podemos dizer que eram mais casos de "exploração inocente". Se estragasse alguma coisa, praticamente não haveriam consequências. Naquela época, as maiores empresas na internet eram as operadoras telefônicas, e foram elas que muitas pessoas exploraram.
Hoje as leis são tão estritas que eu estou muito preocupado com a geração bobba. Existem sentenças mandatórias nos EUA. Quando eu era criança, os dados eram facilmente perdidos ou trocados. Hoje, os dados são armazenados para sempre, o Facebook tem os seus dados pessoais e a política de "nome real", então como você pode recomeçar? Como essas crianças poderão cometer erros para aprender o caminho correto? Isto não está certo"
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Internet das Coisas
Por definição, Internet das Coisas (IoT) é uma "revolução tecnológica" que já está ocorrendo. Ela existe para conectar todos os objetos que você usa na sua rotina, como aparelhos eletrodomésticos, eletroportáteis, máquinas industriais e meios de transporte.
Com a sua vida inteira conectada, muitos perigos também existem. Moss não deixou isso escapar:
TecMundo: Existe algum ponto que você gostaria de ver ser comentado na mídia e ele não é?
Jeff Moss: "O maior ponto de controvérsia é a internet das coisas. Isso porque os ataques de negação de serviço (DDoS) estão crescendo e se tornando cada vez piores. Ao mesmo tempo, vemos mais e mais produtos de IoT que são desenvolvidos sem segurança. Eles são desenvolvidos para chegar rapidamente ao mercado e vender bem, com a máxima 'barato, acessível e cheio de recursos'.
Por causa disso tudo, teremos uma nova onda de vulnerabilidades em redes. É igual o começo dos anos 90, contudo, agora há muito mais risco online. No começo dos 90, não havia nada para roubar. Agora, há muito mais coisa.
Por causa disso, eu acho que o modelo atual de software 'sem segurança' vai sofrer muito ataque. Você não pode ter todas essas fabricantes produzindo produtos sem qualquer confiança. Especialmente quando, na internet das coisas, existem produtos como 'detectores de fumaça', por exemplo. Imagine que alguma atualização é feita de maneira errada e o detector não funciona, uma casa é queimada por completo, seu cachorro morre e o porta-voz da empresa apenas diz: 'Oh, me desculpe. Foi um bug de software'. Não há segurança com o software hoje.
Eu acho que os consumidores, igual quando compram carros, esperam que os produtos funcionem. Então haverá algo, talvez não agora e não nos próximos cinco anos, essa confiança no software chegará. A indústria de software não pode ser a única que não passa confiança"
TecMundo: pode dar algum exemplo atual?
Jeff Moss: "Se você olhar, os carros autônomos: eles são um centro de dados sobre rodas. E eles, inicialmente, são confiáveis. Porém, se eles forem facilmente hackeados, não são mais confiáveis. Então, não me parece que esse modelo atual vai funcionar.
No futuro, os governos vão se envolver nisso. O mercado não está resolvendo esses problemas, as companhias não estão resolvendo esses problemas e, quando falamos em responsabilidade, esse é o papel do governo, goste você ou não. As chances da indústria manter o governo fora disso e continuar se autorregulando vai mudar. Cedo ou tarde, o Estado vai dizer: 'ok, vocês tiveram a sua chance, agora nós vamos regular'. E será muito assustador quando isso acontecer, mas vai acontecer.
Será uma grande guerra civil na indústria de software"
Esta entrevista teve a colaboração dos jornalistas Ramon de Souza e Bruno Micali
FONTE(S)JEFF MOSS/ENTREVISTA